Artigo publicado no jornal Correio do Brasil
Por Bia Watanabe, Daniel Zandoná e Liane Varsano
Foto de capa: Diego PH
O Brasil está vivendo um dos maiores índices históricos de desemprego. Segundo o IBGE o número oficial de brasileiros em busca do emprego formal, aqueles com garantias de carteira assinada, CLT, ultrapassam a 12,6 milhões de pessoas, resultado de setembro deste ano. A mesma pesquisa aponta uma particularidade. O número de brasileiros ocupados, que utilizam recursos próprios para gerar renda, chega a 38,8 milhões. Trazemos aqui uma questão: O empreendedorismo criativo é uma realidade no Brasil?
O modelo industrial, tradicional, é baseado no elevado grau de hierarquia, exploração massiva de recursos naturais, grandes investimentos e mão de obra especializada. Os consumidores são vistos como passivos, reféns de uma comunicação sem interatividade. Se propõe um cenário de competição. O modelo criativo, baseado em redes, se alimenta de novas informações e inovações para agregar e gerar valor. Oferecendo a inclusão e acesso aos meios de produção.
No novo cenário, de maior acesso aos recursos, mudanças constantes e alto grau de imprevisibilidade, emerge o empreendedorismo criativo como forma de realizar sonhos, lutar por causas e projetos antes reprimidos pela falta de oportunidades. É trabalho baseado em colaboração onde a intenção é cuidar do coletivo e oferecer o compartilhamento de recursos materiais.
Neste contexto, seria o nosso empreendedor criativo autosuficiente? Alguns dos países mais desenvolvidos, líderes nesta transição para a nova economia mostram que não. Em países como Inglaterra, Estados Unidos, Holanda e Coreia do Sul há um forte incentivo dos governos na direção da possibilidade da economia criativa como estratégia de desenvolvimento econômico e social. Desta forma criam políticas públicas e parcerias com empresas para fomentar o crescimento e elevar o PIB do setor.
No Brasil há a retirada de investimentos no setor cultural, bem como de incentivos ao audiovisual e à pesquisa científica desacelerando o mercado criativo. Desta forma, uma nova questão surge: qual papel estratégico terá a economia criativa na geração de empregos e no incentivo aos pequenos empreendedores do país?
Os países desenvolvidos olham com muita atenção para a economia criativa e suas possibilidades de geração de riqueza através de valores intangíveis e culturais. Imaginar o Brasil rico nestes insumos fundamentais para a economia do futuro, é enxergar uma possibilidade de buscar meios para reduzir as desigualdades e fazer com que as pessoas tenham acesso ao trabalho justo e decente.
A grande quantidade de pessoas produzindo seus produtos e serviços criativos mostra que, mesmo com muitas dificuldades, elas acreditam e caminham em direção às mudanças. A medida em que tomamos consciência de que os recursos do planeta são finitos e o modo de produção atual torna-se insustentável, olhar para novas formas de produção e consumo parece ser óbvio demais, não precisa de muita criatividade.
Artigo publicado no jornal Correio do Brasil
Por Bia Watanabe, Daniel Zandoná e Liane Varsano
Mestre em gestão e inovação pela COPPE/UFRJ. Engº de produção especialista em tecnologia da informação. É diretor executivo da Colaborativa Tecnologia.