As mudanças promovidas pela transformação digital tem potencial para integrar os mundos físico, virtual e biológico
Visão de mundo atual
Se pudermos fazer um exercício de visualização mental e imaginar as imagens que representam a visão de mundo atual, assim como as possibilidades abertas pela transformação digital em curso, certamente estas imagens seriam mais diversas e menos padronizadas, mais coloridas e menos monocromáticas, mais participativas e menos individualistas, mais complexas e menos lineares.
Desta forma, as mudanças promovidas pelas possibilidades tecnológicas atuais tem potencial para integrar os mundos físico, virtual e biológico, impactando diretamente os processos associados à produção de bens e serviços.
Modelo colaborativo
No modelo tradicional tínhamos uma estrutura em cascata, intensiva em capital que controlava e limitava os meios de produção, um cenário de ocupações bem definidas, empregos vitalícios e meios de comunicação de massa como o rádio e a televisão.
Este cenário caracteriza uma estrutura muito hierárquica, de controle e pouca participação, onde as pessoas eram apenas consumidoras de produtos. Certamente um ambiente mais previsível e linear do que encontramos hoje com as novas tecnologias baseadas na internet e a organização da sociedade em redes.
No modelo de organização em redes, observamos diferenças fundamentais em relação ao chamado modelo tradicional onde as novas tecnologias baseadas na internet popularizaram as ferramentas de produção e diminuíram os custos, diminuindo o fator capital como barreira para criação de valor. Como resultado, temos uma estrutura mais complexa pela própria natureza das redes onde as relações acontecem de forma mais horizontal, participativa e onde os consumidores passam a ser também produtores.
Em contraste com o ambiente tradicional, previsível e linear, observamos um contexto de maior imprevisibilidade, complexidade e mudanças mais frequentes. Certamente, fatores a considerar nos cenários externos e internos para a definição de estratégias e objetivos de negócios. Assim, em relação às diferentes atividades nas empresas e organizações, podemos enxergar a criação de valor através da criação de conhecimento de forma participativa, compartilhando recursos e fazendo uso intensivo das novas aplicações tecnológicas baseadas na internet.
Oportunidades e desafios
No entanto, o desafio para estes novos modelos passa pelo aumento da qualificação geral dos trabalhadores e a consequente desigualdade gerada pela adoção das novas tecnologias. Como exemplo dos efeitos da transformação digital nos processos de negócios e produção, em pesquisa realizada pelo fórum econômico mundial, verificou-se o potencial do uso de inteligência artificial para 47% dos empregos atuais nos Estados Unidos.
Devido ao elevado grau de padronização, entre os processos mais propensos à substituição apresentados pela pesquisa estão as áreas de produção, transporte e movimentação, assim como processos automatizados de vendas. Sem dúvida uma realidade possível atualmente do ponto de vista tecnológico, porém com importantes efeitos no tecido social e na economia.
São muitas as tecnologias e as aplicações podem ser amplas. Estudos recentes do fórum econômico mundial observam a utilização de tecnologias como inteligência artificial, internet das coisas, novos materiais recicláveis, biotecnologia, energias renováveis, big data, impressão 3D, entre outras.
Transformação digital para quem?
Como exemplos mais específicos de aplicações de inteligência artificial que podem impactar as áreas de produção e negócios, temos: carros autônomos, drones, robôs de produção e de interação com trabalhadores, sensores rastreáveis, todos com grande potencial de modificar nossos processos atuais de produção e consumo.
Da mesma forma, aplicações de inteligência artificial que aprendem com dados e possuem enorme capacidade de processamento, podem ser aplicados para processos administrativos como a tomada de decisões estratégicas e de vendas.
Diante deste contexto, percebemos que os desafios para a transformação digital são complexos e haverá necessidade de articulação e cooperação entre governos, universidades e sociedade como um todo. As possibilidades são enormes, resta buscar um modelo onde mais pessoas tenham acessos a estas oportunidades e seja baseado em valores que privilegiam as relações e interesses coletivos.
Mestre em gestão e inovação pela COPPE/UFRJ. Engº de produção especialista em tecnologia da informação. É diretor executivo da Colaborativa Tecnologia.
